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Joana lembra-se, em criança, de entrar pelas tardes dos anos 80 munida de lápis e canetas à procura de desenhar tudo o que a rodeava. A família e os amigos tinham de ter muita paciência, pois já sabiam que as prendas oferecidas pela pequena eram normalmente desenhos ou pinturas, às quais, com muito orgulho, juntava uma flor apanhada na rua ou um beijo.

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Não obstante, foi durante a adolescência que quase desistiu do sonho infantil de ser pintora. Tudo por causa de um malvado professor que teve a audácia de lhe mostrar o lado materialista da criação artística, bem afastado do lado poético ou heroico que havia idealizado. A desilusão inquietou-a, mas, mesmo assim, realizou o ensino secundário em Artes. No final, pode observar com satisfação como o maior mérito alcançado durante esse tempo foi ter tido a sala de Português da escola pintada segundo um projeto seu. Isto deu-lhe alento.

Prosseguiu estudos ingressando no curso de pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, já no final dos anos 90. Durante esses anos deixou-se totalmente apaixonar pela pintura. Emocionava-se com as cores e seus contrastes, pela plasticidade das texturas e dos empastados, pelo movimento criado por linhas e manchas, pelos desequilíbrios harmoniosos da composição. Procurou entender e saber utilizar a linguagem da pintura, abstrata, numa metodologia que saltitava entre a razão e a intuição. Manuseou os elementos pictóricos para pintar um quadro como quem manuseia palavras para escrever um texto. Soube o que esperar deles, conseguia prever o seu impacto. Foi nessa altura que realizou as suas primeiras exposições.

Mas, oh tragédia, mal terminou as Belas Artes, já os sentimentos de desamparo e de desorientação entravam impiedosamente na cabeça da jovem pintora Joana Dias. Estamos em 2007 e é vermos Joana, sentada no atelier, a olhar com desalento os seus quadros abstratos espalhados em volta e a não ver mais que pedaços de tecido com tinta espalhada por cima. A antiga paixão chegava ao fim, desgraçadamente, e no seu lugar havia apenas insatisfação. Continuava  pintar e a realizar exposições em Portugal e no estrangeiro (Alemanha e China), mas a crença no que apresentava esmorecia cada vez mais.

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Aconteceu que numa tarde do ano de 2015, em que despejava o seu papelão e ao mesmo tempo amaldiçoava as empresas de publicidade, pela quantidade interminável de folhetos, revistas, jornais, postais ou cartões que lhe deixavam na caixa de correio, acidentalmente pensou: e porque não fazer algo de útil com isto? Iniciou-se então nas colagens, que primeiro falam sobre temas relacionados com a sociedade de consumo, para mais tarde se espraiarem a temas como os media, as massas, diferenças de classe, ecologia, entre outros. Constrói narrativas utilizando um tipo de linguagem bizarra, surrealizante, num sarcasmo que causa riso e desconforto ao mesmo tempo. A técnica também se alarga: junta desenho e pintura aos recortes, utiliza-os para animações em stopmotion, introduz o digital no analógico.

Através das colagens confirma como, sim, produzir uma imagem não é afinal mais do que cobrir um determinado suporte com elementos visuais. Se há dez anos essa evidência lhe havia causado quase pânico, hoje entende-o como uma possibilidade de total liberdade. Todos os suportes são válidos, todas as formas de os intervencionar plasticamente também.

Atualmente, é o mundo inteligível que lhe interessa cada vez mais representar, muito embora não se tenha desligado do interesse pelo plástico.

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As narrativas que cria, usando desenho, pintura e colagem, num traço forte e com cores contrastantes, refletem a realidade que a rodeia nas suas contradições, insignificâncias e excessos, invisibilidades e evidências, desejos e imprevisibilidades, crenças e incredibilidades, raridades e banalidades, humanidades e bestialidades.

Na sensação de que estava a perder, teve vontade de partir para outro lugar. Foi nas próprias pinturas que depositou essa perda, e foi na sua destruição que consumou essa procura, na fase a que mais tarde denominou de Pós-Pintura.

Mas a destruição da pintura era apenas a sua destruição e não a criação de algo novo. Joana continuava numa encruzilhada. A desajudar, alguns eventos infelizes a darem-se na sua vida pessoal, como a morte da mãe ou a separação do companheiro, a transformar a encruzilhada num poço, a que Joana não via o fundo. Foi conduzindo algumas experiências plásticas durante esses anos, mas na verdade bastante inconsequentes. Nesse tempo também parou de expor.

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